Durante estes dias de carnaval, tendo e vista o tema do nosso retiro “Alegria é um ato de Fé”, publicaremos trechos da carta do Papa Bento XVI para o 27º dia mundial da juventude.
Mensagem XXVII
Dia Mundial da Juventude
«Alegrai-vos sempre no Senhor!» (Fil 4,4)
3ª parte da Carta
5. A alegria da partilha
Queridos amigos, para viver a verdadeira alegria é
preciso também identificar com atenção quem está longe. A cultura atual induz muitas vezes a buscar objetivos, realizações e prazeres
imediatos, favorecendo mais o inconstante que a perseverança no cansaço e a
fidelidade aos empenhos.
As mensagem que vocês recebem impulsionam-lhes a
entrar na lógica do consumo, provendo uma felicidade artificial. A experiência
ensina que ter não coincide com a alegria: existem tantas pessoas que, mesmo
tendo tantos bem materiais em abundância, estão sempre assombradas pelo
desespero, pela tristeza e sentem um vazio na vida. Para permanecer na alegria,
somos chamados a viver no amor e na verdade, a viver em Deus.
E a vontade de Deus é que nós sejamos felizes. Por isso, nos foram dadas indicações concretas para o nosso caminho: os
Mandamentos. Observando-os, nós encontramos a estrada da vida e da felicidade. Mesmo
que à primeira vista possa parecer um conjunto de proibições, quase um
obstáculo à liberdade, se os meditamos mais atentamente, à luz da Mensagem de
Cristo, estes são um conjunto de essenciais e preciosas regras de vida que
conduzem a uma existência feliz, realizada segundo o projeto de Deus.
Quantas vezes, ao contrário, constamos que construir a vida ignorando Deus e
Sua vontade leva à desilusão, tristeza, sensação de derrota. A experiência do
pecado, como a recusa a segui-Lo, como uma ofensa à sua amizade, traz sombra
aos nossos corações.
Mas se às vezes o caminho cristão não é fácil e o
empenho de fidelidade ao amor do Senhor encontra obstáculos ou registra quedas,
Deus, em sua misericórdia, não nos abandona, mas nos oferece sempre a
possibilidade de retornar a Ele, de nos reconciliarmos com Ele, de
experimentarmos a alegria do Seu amor que perdoa e acolhe novamente.
Queridos jovens, recorram sempre ao Sacramento da
Penitência e da Reconciliação! Este é o Sacramento
da alegria reencontrada. Peçam ao Espírito Santo a luz para saber reconhecer
seus pecados e a capacidade de pedir perdão a Deus, recebendo este
Sacramento com freqüência, serenidade e confiança. O Senhor abre sempre Seus
braços a vocês, vos purificará e vos fará entrar em Sua alegria: Haverá alegria
no céu mesmo que por um só pecador que se converte (cfr Lc 15,7).
6. A alegria nas provas
Por fim, porém, poderá permanecer em nosso coração
a pergunta se realmente é possível viver na alegria mesmo em meio a tantas
provas da vida, especialmente as mais dolorosas e misteriosas, se realmente
seguir o Senhor, confiar-nos a Ele, temos sempre felicidade.
A resposta pode vir-nos de algumas experiências de jovens como vocês que
encontraram justamente em Cristo a luz capaz de dar força e esperança, mesmo em
meio às situações mais difíceis. O beato Pier Giorgio
Frassati (1901-1925) experimentou tantas provas em sua breve existência, entre
elas, uma relacionada à sua vida sentimental, que o feriu de maneira profunda.
Justamente esta situação, escreve a sua irmã: “Você me pergunta
se estou alegre; e como não poderia ser? A fé me dará sempre força para ser
alegre! Todo católico não pode não ser alegre... A finalidade para a qual fomos
criados nos mostra que o caminho está repleto de muitos espinhos, mas não um
caminho triste: esse é a alegria mesmo em meio às dores” (Carta à irmã
Luciana, Torino, 14 de fevereiro de 1925). E o beato João Paulo II,
apresentando-o como modelo, dizia dele: “era um jovem de uma alegria
contagiante, uma alegria que superava tantas dificuldades de sua vida” (Discurso
aos jovens, Torino, 13 de abril de 1980).
Mais próxima a nós, a jovem Chiara Badano (1971-1990), recentemente beatificada, experimentou como a
dor pode ser transfigurada pelo amor e ser misteriosamente habitada pela
alegria. Aos 18 anos de idade, num momento em que o câncer a fazia
particularmente sofrer, Chiara rezou para que o Espírito Santo intercedesse
pelos jovens de seu Movimento [Movimento dos Focolares]. Antes de sua cura, pediu a Deus que iluminasse com Seu Espírito todos
aqueles jovens, dando a eles a sabedoria e a luz: “Foi mesmo um
momento de Deus: sofria muito fisicamente, mas a alma cantava” (Carta de Chiara
Lubich, Sassello, 20 de dezembro de 1989). A chave de sua paz e sua alegria era
a completa confiança no Senhor e a aceitação também de sua doença como
misteriosa expressão de Sua vontade para o seu bem e de todos. Repetia sempre: “Se você quer, Jesus, eu também quero”.
São duas simples testemunham entre tantas que mostraram como o cristão autêntico não é nunca desesperado e triste, mesmo diante das
provas mais duras e mostram que a alegria cristã não é uma fuga da realidade,
mas uma força sobrenatural para enfrentar e viver as dificuldades cotidianas. Sabemos que Cristo
crucificado e ressuscitado está conosco, é o amigo sempre fiel. Quando
participamos de seus sofrimentos, participamos também de suas alegrias, Com Ele
e Nele, o sofrimento é transformado em amor. E lá se encontra a alegria (cfr
Col 1,24).
7. Testemunhas da alegria
Queridos amigos, para concluir, gostaria de
exortar-lhes a serem missionários da alegria. Não se pode ser feliz se os
outros não são: a alegria, portanto, deve ser compartilhada. Vão e contem aos
outros jovens a alegria de vocês por terem encontrado aquele tesouro precioso
que é o próprio Jesus. Não podemos guardar para nós a alegria da fé: para que
esta possa permanecer conosco, devemos transmiti-la. São João afirma: “O
que vimos e ouvimos, isso nós anunciamos, para que também tenhais comunhão
conosco... Estas coisas vos escrevemos, para que o vossa alegria seja plena.
(1Jo 1,3-4).
Muitas vezes é descrita uma imagem do cristianismo
como de uma proposta de vida que oprime a nossa liberdade, que vai contra nosso
desejo de felicidade e de alegria. Mas esta não corresponde à verdade! Os cristãos são
homens e mulheres realmente felizes porque sabem que nunca estão sozinhos, mas
estão sempre apoiados pelas mãos de Deus! Cabem, sobretudo, a
vocês, jovens discípulos de Cristo, mostrar ao mundo que a fé leva a uma
felicidade e a uma alegria verdadeira, plena e duradoura. E se o modo de
viver dos cristãos parece às vezes cansativo e chato, testemunhem vocês por
primeiro a alegria e a felicidade da fé de vocês. O Evangelho é a boa nova que Deus nos ama e que cada um de nós é
importante para Ele. Mostrem ao mundo que é mesmo assim!
Sejam, portanto, missionários entusiasmados pela
nova evangelização! Levem àqueles que sofrem, àqueles que buscam, a alegria que Jesus quer
doar. Levem-na para suas famílias, em suas escolas e universidades, nos lugares
de trabalho e nos grupos de amigos, lá onde vivem. Vocês verão que essa é
contagiosa. E receberam o cêntuplo: a alegria da salvação para vocês mesmos, a
alegria de ver a Misericórdia de Deus operando nos corações.
No dia do seu encontro definitivo com o Senhor, ele poderá lhe dizer: “Servo
bom e fiel; já que foste fiel no pouco, eu te confiarei muito. Vem regozijar-te
com teu Senhor!” (Mt 25,21).
A Virgem Maria vos acompanha neste caminho. Ela acolheu o
Senhor dentro de si e anunciou com um canto de louvor e de alegria, o Magnificat:
“Minha alma glorifica o Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus, meu
Salvador” (Lc 1,46-47). Maria respondeu plenamente ao amor
de Deus dedicando sua vida a Ele num serviço humilde e total. É chamada de “a
causa da nossa alegria”, porque ela nos deu Jesus. Que Ela vos introduza nesta alegria que ninguém vos poderá tirar!