Durante estes dias de carnaval, tendo e vista o tema do nosso retiro “Alegria é um ato de Fé”, publicaremos trechos da carta do Papa Bento XVI para o 27º dia mundial da juventude. 

Mensagem XXVII 
Dia Mundial da Juventude 
 «Alegrai-vos sempre no Senhor!» (Fil 4,4) 

2ª parte da Carta


3. Conservar no coração a alegria cristã 

Neste ponto, nos perguntamos: como receber e conservar este dom da alegria profunda, da alegria espiritual? 

Um Salmo nos diz: “Deleita-te também no Senhor, e te concederá os desejos do teu coração” (Sal 37,4). E Jesus explica que “o Reino dos céus é também semelhante a um tesouro escondido num campo. Um homem o encontra, mas o esconde de novo. E, cheio de alegria, vai vende tudo o que tem para comprar aquele campo” (Mt 13,44). Encontrar e conservar a alegria espiritual nasce do encontro com o Senhor, que pede para segui-Lo, para fazer a escolha decisiva de voltar tudo para Ele. 

Queridos jovens, não tenhais medo de colocar à disposição toda a vossa vida, dando espaço para Jesus Cristo e seu Evangelho; é a estrada para haver a paz e a verdadeira felicidade no íntimo de nós mesmos, é a estrada para a verdadeira realização de nossa existência de filhos de Deus, criados à Sua imagem e semelhança. 

Busquem a alegria no Senhor: a alegria da fé, é reconhecer cada dia sua presença, sua amizade: “O Senhor está próximo!” (Fil 4,5); é colocar nossa confiança Nele, é crescer no conhecimento e no amor Dele. O ‘Ano da fé’, que daqui alguns meses iniciaremos, será para nós ajuda e estímulo. Queridos amigos, aprendam a ver como Deus age em suas vidas, descubram-O escondido no coração dos acontecimentos do seu cotidiano. Creiam que Ele é sempre fiel à aliança que fez convosco no dia do vosso batismo. Saibam que não vos abandonará jamais. Volteis sempre o olhar para Ele. Na Cruz, doou sua vida porque ama cada um de vocês. 

A contemplação de um amor assim grande leva aos nossos corações uma esperança e uma alegria que nada pode abater. Um cristão não pode ser jamais triste porque encontrou Cristo, que deu a vida por ele. 

Buscar o Senhor, encontrá-lo na vida, significa também acolher sua Palavra, que é alegria para o coração. O profeta Jeremias escreve: “Vossa palavra constitui minha alegria e as delícias do meu coração” (Jer 15,16). Aprender a ler e meditar a Sagrada Escritura, ali encontra-se uma resposta às perguntas mais profundas de verdade que brotam em vossos corações e em vossas mentes. A palavra de Deus faz descobrir as maravilhas que Deus operou na história do homem e, pleno de alegria, abre-se ao louvor e à adoração: “Cantai ao Senhor... adoremos, de joelhos diante do Senhor que nos fez” (cfr Sal 95,1.6). 

De modo particular, a Liturgia é um lugar por excelência no qual se exprime a alegria que a Igreja atinge do Senhor e transmite ao mundo. Cada domingo, na Eucaristia, a comunidade cristã celebra o Mistério central da salvação: a morte e ressurreição de Cristo. È este o momento fundamental para o caminho de cada discípulo do Senhor, no qual se rende presente o seu Sacrifício de amor; é a via na qual encontramos Cristo Ressuscitado, escutamos Sua Palavra, nos nutrimos de seu Corpo e Seu Sangue. 

Um Salmo afirma: “Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos!” (Salmo 117, 24). E na noite de Páscoa, a Igreja canta o Exultet, expressão de alegria pela vitória de Jesus Cristo sobre o pecado e a morte: “Exulta o coro dos anjos... Alegra-se a terra inundada de tão grande esplendor... e este templo todo ecoa para as proclamações do povo em festa!”. A alegria cristã nasce da consciência de ser amado por um Deus que se fez homem, que deu Sua vida por nós e venceu o mal e a morte; e é viver de amor para ele. Santa Teresinha do Menino Jesus, jovem carmelita, escreveu: “Jesus, minha alegria é amar-te!” (P. 45, 21 de janeiro de 1897, Op. Compl., pág. 708). 

4. A alegria do amor 

Queridos amigos, a alegria é intimamente ligada ao amor: são dois frutos inseparáveis do Espírito Santo (cfr Gal 5,23). O amor produz alegria, e a alegria é uma forma de amor. A beata Madre Teresa de Calcutá, fazendo ecoar as palavras de Jesus: “É maior felicidade dar que receber!” (At 20,35), dizia: “A alegria é uma rede de amor para capturar almas. Deus ama quem dá com alegria. E quem dá com alegria dá mais”. E o Servo de Deus Paulo VI escreveu: “Em Deus mesmo tudo é alegria, pois tudo é dom” (Exort. ap. Gaudete in Domino, 9 de maio de 1975). 

Pensando aos vários ambientes da vida de vocês, gostaria de dizer-lhes que amar significa constância, fidelidade, ter fé nos empenhos. E este, em primeiro lugar, nas amizades: os nossos amigos esperam que sejamos sinceros, leais, porque o verdadeiro amor é perseverante também e, sobretudo, nas dificuldades. E o mesmo vale para o trabalho, os estudos e as atividades que desempenham. A fidelidade e a perseverança no bem conduzem à alegria, mesmo que ela não seja sempre imediata. 

Para entrar na alegria do amor, somos chamados também a ser generosos, a não nos contentarmos em dar o mínimo, mas a empenhar-nos a fundo na vida, com uma atenção especial para com os mais necessitados. O mundo necessita de homens e mulheres competentes e generosos, que se colocam a serviço do bem comum. Empenhem-se nos estudos com seriedade; compartilhem seus talentos e os coloquem desde já a serviço do próximo. Busquem a maneira de contribuir para uma sociedade mais justa e humana, onde vocês estiverem. Que toda sua vida seja guiada pelo espírito do serviço, e não pela busca do poder, do sucesso material e do dinheiro. 

A propósito da generosidade, não posso não mencionar uma alegria especial: aquela que se encontra na resposta à vocação de dar toda a vida ao Senhor. Queridos jovens, não tenham medo do chamado de Cristo para a vida religiosa, monástica, missionária ou ao sacerdócio. Estejam certos que Ele enche de alegria aquele que, dedicando a vida nesta perspectiva, responde ao seu envio deixando tudo para permanecer com Ele e dedicar-se de coração inteiramente a serviço dos outros. Do mesmo modo, grande é alegria que Ele reserva ao homem e à mulher que se doa totalmente um ou outro em matrimônio para constituir uma família e tornar-se sinal do amor de Cristo por sua Igreja. 

Quero destacar novamente um terceiro elemento para entrar na alegria do amor: fazer crescer em suas vidas e na vida de suas comunidades a comunhão fraterna. Existe uma estreita ligação entre a comunhão e a alegria. Não é por acaso que São Paulo escreve sua exortação no plural: não se dirige a cada um singularmente, mas afirma: “Alegrai-vos sempre no Senhor” (Fil 4,4). Somente juntos, vivendo a comunhão fraterna, podemos experimentar esta alegria. O livro dos Atos dos Apóstolos descreve assim a primeira comunidade cristã: “Partiam o pão nas casas e tomavam a comida com alegria e simplicidade de coração” (At 2,46). Empenhem-se vocês também a fim que as comunidades cristãs possam ser lugares privilegiados de partilha, de atenção e de cuidado um com o outro.