Diante de suas limitações, Bento XVI diz
confiar plenamente em Deus


Nicole Melhado
Da Redação



Ao comemorar seu 78º aniversário, o Cardeal Joseph Ratzinger esperava uma aposentadoria tranquila, mas três dias depois, no dia 19 de abril de 2005, ele foi eleito o 264º sucessor de Pedro. “A única coisa que pensei para explicar a mim mesmo foi: ‘Evidentemente, a vontade de Deus é outra, e para mim começa algo completamente diferente, uma coisa nova. Mas Ele está comigo”, conta o agora Papa Bento XVI, no livro-entrevista “Luz do Mundo. O Papa, a Igreja e os sinais dos Tempos".

Na Praça de São Pedro, fiéis, peregrinos e a imprensa de todo mundo esperavam pelo anúncio e o primeiro pronunciamento no novo Papa. Bento XVI então pensou “O que poderia dizer?”. Desde o momento da eleição, ele só conseguia dizer “Senhor, o que está fazendo comigo? Agora a responsabilidade é Tua. Deves conduzir-me! Não sou capaz disso. Se me quiseste, agora deves também ajudar-me”.

De fato, ser o líder da maior Igreja cristã que reúne fiéis de diferentes etnias, povos e culturas dos quatro cantos da Terra é um grande dever. Os católicos no mundo são cerca de 1 bilhão e 196 milhões. De acordo com o Anuário de 2010, um aumento de fiéis em 1,3% (entre 2009 e 2010), e uma presença global que se mantém estável em torno de 17,5%.

O poder do Papa

Ao completar sete anos de Pontificado, Bento XVI afirma que esses números mostram quão ampla é a comunidade católica, mas o poder do Papa, no entanto, não está nesses dados. Por que não? Ele explica que a comunhão com o Papa é de outro gênero, como também é a pertença à Igreja. Como dizia Santo Agostinho, muitos que parecem estar dento, estão fora; e muitos que parecem estar fora, estão dentro. “Em uma questão como a fé e a pertença à Igreja, o dentro e o fora estão entretecidos misteriosamente”, reforça o Pontífice.

O ex-líder da União Soviética, Josef Stalin, disse que o Papa não tem divisões militares e não pode intimidar ou impor nada, não possui sequer uma grande empresa, por assim dizer, na qual todos seus fiéis seriam seus dependentes ou subalternos. Nesse sentido o Papa seria uma pessoa absolutamente impotente. Por outro lado, Bento XVI esclarece que ele tem uma grande responsabilidade, pois é, em certo sentido, o chefe, o representante, e tem o dever de fazer com que a fé que mantém unidas as pessoas tenha credibilidade, permaneça viva e continue íntegra em sua identidade.

 Os Papas nunca erram?

O Papa, como qualquer outro sacerdote fala e age sobre o comando de Jesus Cristo e por Ele. O Filho de Deus confiou Sua Palavra à Igreja, mas todo sacerdote pode ter suas insuficiências e fragilidades. “O que conta é que eu não exponho as minhas ideias, mas procuro pensar e viver a fé da Igreja, agir sob Seu comando de modo obediente”, destaca o Santo Padre.

O Papa tem conta no banco?

É verdade que o Papa não tem conta em banco, esclarece Bento XVI, as doações em dinheiro não são destinadas a seu uso pessoal, mas enviadas a fim de que possam ajudar os outros.

“Comove-me muito o fato de que pessoas simples me mandem algum dinheiro, dizendo ‘Sei que o senhor tem tantas pessoas a quem ajudar...! quero contribuir um pouco também eu’”. O Santo Padre recebe ainda cartas e pequenos presentes do mundo inteiro, são pessoas simples, freiras, mãe, pais e crianças que o encorajam escrevendo “Rezamos pelo senhor, não tenha medo, nós o queremos bem”.

Além do carinho e das demonstrações de apoio pelas cartas, Bento XVI encontra a consolação no relacionamento íntimo com Deus. Sua fé é a mesma de quando era um jovem sacerdote, mas ele confessa que, na condição de Papa, ele tem muitas razões a mais para rezar e para entregar-se completamente a Deus.

“A oração e o contato com Deus são agora mais necessários, mas também mais naturais e espontâneos do que antes”, conta o Pontífice. Após sua eleição, no dia 19 de abril, o Papa Bento XVI iniciou o Pontificado cinco dias depois, no dia 24 de abril de 2005.